Ao pensar nos nossos mortos, cabe ter essa certeza de que os nossos mortos vivem, eles não estão jazendo nos sepulcros.
Que
coisa grotesca será imaginar nossos seres amados enterrados na
sepultura com os seus despojos! Vale a pena pensar numa gaiola vazia,
donde o pássaro já se foi. Vale a pena pensar nisso.
O
nosso corpo físico, durante um tempo mais ou menos largo, serve-nos de
morada, serve-nos como uma gaiola que, ao mesmo tempo que nos ajuda a
aprender, a crescer, também é um instrumento através do qual resgatamos
aquilo que devemos em face da vida, coloquemos em ordem a nossa
consciência com as Leis Divinas.
Logo,
o Dia de Finados, o Dia dos Mortos deveria ser um dia sim, de homenagem
aos nossos seres queridos, mas de outra maneira. Aprendermos a fazer um
levantamento de como se acham nossas disposições na vida, se estamos
vivendo de acordo com os ensinamentos de nossa mãe, de nosso pai, se os
estamos homenageando, glorificando seus nomes, pelo tipo de criatura que
sejamos: dignas, nobres, amigas, fraternas, cooperosas, dedicadas ao
bem.
Afinal
de contas, de que outra maneira melhor nós poderíamos homenagear os
nossos mortos? Nem sempre levando flores para enfeitar os sepulcros onde
se acham seus despojos. Aqueles recursos das flores, quantas vezes
poderiam ser transformados, em nome dos nossos mortos, em leite para uma
criança pobre, em pães para o necessitado, em remédios para um doente
que não os pode comprar, em cadernos para que alguma criança aprenda.
Nós
podemos converter aquela quantidade enorme de cera que compramos para
queimar nos cemitérios, que não vai levar a lugar algum os nossos
mortos, que não precisam de cera queimada, converter isso em roupa, em
alimentos, em agasalho, em material escolar, em medicação, em
acompanhamento, em homenagem aos nossos mortos.
Quando
presenteássemos uma criança com o kit de material escolar, nós
poderíamos dizer a ela, caso ela entendesse, ou aos seus pais: Faça uma
prece por Fulano de Tal, que é meu filho, que é meu pai, que é minha
mãe, que é meu irmão, ou meu amigo.
Nós
teríamos formas tão mais agradáveis, tão mais felizes, de homenagear os
nossos mortos. E cantar, brincar, e nos alegrar, como eles gostavam que
nós fizéssemos.
No
Além, eles continuam gostando. Quantos filhos que se foram para o Mais
Além e suas mães começam a morrer aqui na Terra. Não se tratam mais, não
se cuidam mais, não os respeitam mais.
Se
seus filhos gostavam de vê-las bem vestidas, bem cuidadas, alegres,
joviais, em homenagem a eles, no Dia dos Mortos e em todos os dias da
vida, continuem assim, bem cuidadas, dispostas, alegres. O que não nos
impede a lágrima de saudade e nunca a lágrima de revolta.
Se
os nossos filhos gostavam de saber que nós estamos envolvidos em
atividade social, em alguma atividade do bem como voluntários, servindo
numa escola, servindo num velhanato, num hospital, vamos continuar a
fazer isso em homenagem a eles, em nome deles que de onde estiverem, nos
aplaudirão, nos incentivarão.
Se
tivemos nossos entes queridos desencarnados em situações drásticas,
pela drogadição, pelo vírus do HIV ou pelo suicídio, mais motivos temos
de rogar a Deus por eles, de homenageá-los, fazendo toda a cota de bem
que nos for possível. Em honra deles.
Não
tenhamos qualquer mágoa deles. Não imaginemos que eles estejam perdidos
para sempre. Nunca suponhamos que Deus os vá castigar por sua
fragilidade, porque Deus não é um juiz que sentencia. Deus é um Pai que
ama, e certamente, se nós estamos fazendo as coisas boas para homenagear
no Dia de Finados, ou ao longo dos dias do ano, os nossos amores que
foram para o Além, por vias naturais ou por alguma enfermidade, o que é
que não faremos para homenagear àqueles que saíram de maneira tão
triste, tão lastimável da convivência com o corpo físico.
Por
isso é que a nossa oração por eles deverá partir do nosso coração, do
mais íntimo do nosso ser, pensando em Deus como o Pai comum de todos
nós, mas nos colocando diante da vida de maneira muito operosa, nos
tornando pessoas úteis, a fim de que o Dia de Finados transcorra para
nós como mais um dia em que homenageamos os nossos seres queridos que
demandaram o Mais Além, na vibração, na torcida, fazendo os votos para
que os nossos amores, que já se transformaram em estrelas, sejam felizes
nessas dimensões do Invisível, junto a Esse amor incomensurável de
nosso Pai Celeste.
Raul Teixeira
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